Ele nunca esquecera um 08 de março. A dona da
floricultura deixava pronto o ramalhete de flores que ela mais gostava, para
que ele pegasse ao fim do expediente de trabalho. Mesmo aos finais de semana,
ela nunca deixaria de receber suas flores prediletas. Como enfatizava com
orgulho ao entregá-las à esposa. Em um papel de seda rosa ou decorado, enlaçado
à fita de cetim e bem ornamentados a mulher recebia as flores, o perfume
delas...E os espinhos. Potentes espinhos, que mesmo depois de murchas não morriam com elas. Estavam cravados
em cada centímetro de sua memória. Aprofundados em sua alma.
Ela
jamais esquecia 08 de março. Ele fazia questão de sempre lembrar todas as datas
memoráveis. E com o passar do tempo o esposo aprimorou na entrega do esperado
ramalhete. Até que na penúltima vez com os espinhos vieram as balas certeiras.
Mas ele se superou ao entregar o último buquê. Os pregos no caixão dela, a
terra que socava a madeira e a última fresta de luz que se apagou com um
granulo terroso encerrou a entrega daquelas flores malditas. De onde estava,
por toda eternidade, ela odiaria o cheiro de flores misturado a nauseante dor
entregue à muitas parabenizadas mulheres no dia 08 de março...
Adriana
Ramiro
Certamente, para as pessoas que compreendem o real motivo do Dia
Internacional da Mulher e que, infelizmente, quase tudo que vem disto costuma
ser banalizado, sabe que hoje não é um dia de flores. Mas posso dizer que é um dia de MULHERES, como todos os dias. É um dia importante na história, contudo, não deve se resumir também
aos protestos e ativismos nesta única data. Hoje considerei que nada como
homenagear uma mulher não pelo fato de ela "gostar de receber flores e
mimos porque ela é delicada por natureza e blábláblá", enquanto continuam sendo mortas pelas mesmas mãos sujas do sangue da cor das tantas rosas que lhes são entregues. Nada como homenagear uma mulher não pela sua beleza física (não
que ela não possua!), mas pelo seu talento, sua inteligência e sua garra e
isso, conhecendo a Dri como conheço, sei que ela tem de sobra.
Dri, parabéns, não pelo Dia Internacional da Mulher em si, mas
por você ser você, essa escritora, professora, mulher incrível que é. E por ter escrito
um conto tão fascinante que aborda relacionamentos abusivos, os quais tantas
pessoas ainda naturalizam, até mesmo as próprias escritoras, mulheres, em seus
romances, reproduzindo algo que foram condicionadas desde tenra idade, que apanhar e perdoar é
normal, que relações abusivas são normais. Não, não são e se não combatidas a
tempo levam a um único destino: o caixão e as flores mencionadas na breve,
porém forte, prosa de Adriana Ramiro. E quando não do corpo, da alma, e-ter-na-men-te. Você é incrível.
Vocês mulheres, todas, cada uma é incrível ao seu modo. Não permitam que
ninguém tente lhes tirar o brilho e fazer parecer o oposto. E acima de tudo, estejam sempre umas pelas outras.
Millie
Colmán