26/02/2016

O verdadeiro valor de um pedido de desculpas


Dando umas voltas por algumas memórias, me recordei da minha professora do 3º ano do Ensino Fundamental relatando uma reação dos seus dois únicos filhos. Segundo ela, o caçula, aproveitando-se da distração do irmão jogando videogame esparramado no tapete da sala, insistia em passar por cima de suas pernas e dar-lhe um chute. Diante dos protestos do mais velho, a mãe (no caso, ela) exigia imediatamente que ele pedisse desculpas. E, zoando, olhava com cara de sacana para o garoto dizendo: "Desculpinha, desculpinha..."
A moral que ela nos quis passar é: se você não tem a intenção de se redimir, não há razão para pedir desculpas, ou soaria como os "desculpinhas" do seu filho caçula.
Tratavam-se de crianças, porém, quantos adultos não cruzam por nossas vidas com estas mesmas "desculpinhas?" Por quais motivos supostos amigos que saem de nossas vidas e voltam com um pedido de desculpas como este, todo pedante e às vezes, na defensiva, se suas atitudes deixam muito claro que "não sentem muito?" Diante de tais fatos, é justo que questionemos que interesses hajam por trás de uma desculpa que não é real, claramente não é sentida.


Não sei vocês, mas eu reconheço, sou uma pessoa difícil. Para que ganhem minha confiança e lealdade precisa ser para mim muito especial. Ou que eu tenha acreditado que seja. E, sendo assim, amizades para mim são sagradas. Amizade, e não o romance, é a entrega total em minha vida. Pessoas que a conquistam ganham uma companheira, confidente, excelente ouvinte, que compartilha praticamente tudo, mais que uma irmã... uma pessoa por inteiro.


No entanto, ser uma verdadeira amiga, saber perdoar, não guardar rancores, aceitar as pessoas de volta não nos torna gente que se pode fazer de trouxa. Não nos torna pessoas que acham que "precisam de autorização" para dar um direito de resposta que é nosso por natureza! 
Magoar aos outros, todos magoamos. Problemas, todos temos. E nada, absolutamente nada justifica atitudes como o tipo de desculpa enfatizado pela minha saudosa prof. 
Por mais que fiquemos chateados, magoados, o melhor é seguir adiante com a única opção do afastamento. Não guardar mágoas é uma dádiva que precisamos nos dar, mas voltar ao convívio com alguém que não tomou consciência do mal que fez e volta deste jeito não compensa. 
Porque quando alguém toma realmente consciência, até o tão valoroso pedido de desculpas se torna desnecessário.
O que não podemos é nos arrepender do bem que fizemos (ou tentamos fazer), da nossa entrega por completo, mas muito menos nos esquecermos de nosso próprio valor.

Ao contrário de Cazuza, mentiras sinceras nunca, NUNCA deveriam nos interessar.


Mi F. Colmán



I´m bleeding, quietly living I´m living, quietly bleeding - Dominik
 renata massa