03/02/2019

MEMÓRIAS PÓSTUMAS


Ninguém sabe o que é acordar todos os dias se sentindo uma pessoa inútil.
Ninguém sabe o que é acordar todos os dias e mentir pra você mesmo que “está tudo bem”.
Ninguém sabe o que é passar uma noite acordada estudando para uma prova, na qual você sabe que por mais que se esforce, você não conseguirá nem tirar a média.
Ninguém sabe o que é ter que aguentar as cobranças de notas ótimas, currículo impecável, vida social ótima.
Ninguém sabe o que é se esforçar para ser melhor, mas não conseguir.
Ninguém sabe o que é tentar todos os dias.
Eu realmente não aguento mais, não suporto mais, Eu sei que coisas lindas podem acontecer, mas não comigo! As coisas boas estão reservadas às pessoas perfeitas, eu sou cheia de defeitos e deficiências... sou cheia de lutas internas que não consigo ganhar.
A faculdade, a sociedade me levaram a isso. Eu me sinto sufocada no ambiente universitário, me sinto pressionada a todo momento, com medo e assustada. Me sinto incompetente por não conseguir ser melhor, por não conseguir ser boa o suficiente.
Quero pedir desculpas a todos que algum dia eu magoei, a todos que tentaram me ajudar. Não foi em vão.
Me desculpe mãe, por eu ser fraca e não conseguir suportar. Mas você também não se orgulharia da pessoa que eu estava me tornando. Uma pessoa insegura, medrosa, depressiva, frustrada.
Eu finalmente vou descansar.
“E lá vou eu, nas minhas tentativas, às vezes meio cegas, às vezes meio burras, tentar acertar os passos” (Caio Fernando Abreu)
Isa

Isa não é um apelido fictício. Isa não é uma pessoa fictícia. Essa carta suicida quem dera fosse ficção. Ela me foi repassada por um de seus amigos há mais de um ano e há mais de um ano essa é a segunda vez que tive forças para ler e li apenas para digitar e publicar, porque ela ainda bate muito forte dentro de mim.
Conheci Isa num grupo de Magia Draconiana, nós duas éramos curiosas acerca dessa vertente. Ela, mais neófita do que eu (visto que não importa o quanto eu estude, sempre me considerarei uma eterna neófita, sempre há algo para aprender), sabia que eu lidava com a Magia do Caos e vinha no meu pv do whats sempre desesperada procurando por ajuda, procurando por um servidor que a pudesse ajudar com as provas da universidade, me pedindo para ajudá-la porque estava sem forças até mesmo para evocá-lo, energizá-lo, enfim... Era evidente que Isa não estava nada bem. Deixei claro que nunca tinha lidado com aquele servidor em especial, mas faria o possível para ajudá-la, ouvi durante madrugadas seguidas seu desespero por medo de “não atingir a média”, pelas exclusões e pressões que estava enfrentando.
Muitas vezes me vi em Isa. Isa não era nenhuma ignorante, era visível seu potencial.
Quem não era visível era ela.
Fizeram com que Isa se sentisse desse jeito, foram minando sua autoestima aos poucos por não possuir um dom muito útil de manipular e inflar egos de certos professores que parecem carecer disso.
Muitas e muitas vezes eu me vi como Isa, mas a magia, os Fraters e as sacerdotisas que conheço sempre me auxiliaram, me fazendo enxergar meu valor, por mais que o mesmo muitas vezes tenha sido arrancado de minhas próprias mãos. Isa poderia ter sido eu. Isa pode ser aquele (a) teu (tua) aluno (a) que nesse momento você ignora, Isa pode ser aquele (a) seu (a) filho (a) que você pressiona para ser o (a) melhor (visto que números não significam bosta nenhuma, muitas vezes “boas” notas não passam de pura memorização e não conhecimento desse sistema falho de avaliação), Isa pode ser o (a) seu (sua) colega que você exclui na hora de fazer trabalhos ou toma para si os méritos de seus trabalhos. Isa poderá ser você que acabou de entrar agora seja pelo SISU, PROUNI ou vestibular.
Isa ouviu muito que a meritocracia não existia, quando na real, foi é alvo dela por não ter as coisas boas reservadas que as “perfeitas” e “boas” têm como diz em sua carta. Isa tinha tudo para ter sim, “os mesmos méritos” de seus colegas, as pessoas “perfeitas” com as “melhores” notas, exceto apoio, proteção, oportunidades e privilégios destinados a poucos.
Isa poderia ter outros problemas? Óbvio que sim! Não seria mais um motivo para que tivesse algum olhar sensível, um único que fosse, para ser auxiliada com todos aqueles que conviviam com ela no seu dia-a-dia? Enfim... peço só que respeitem a memória de Isa, qualquer comentário desrespeitoso será devidamente excluído (minha moderação de comentários desapareceu, se algum (a) blogueiro (a) puder me ajudar com isso, agradeço).
Apenas desenterro essa carta para refletirmos, para lutarmos para não acabarmos como Isa e, acima de tudo, não sermos colaboradores para a existência de outras Isas.
Sermos esses últimos é não fazermos mais do que nossa obrigação. GRATA!

Paz, Luz e acima de tudo Consciência e Empatia, por favor.  

Millie Colmán


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