20/07/2015

Eu assisti: Azul é a cor mais quente


Intacta. Praticamente sem piscar. Foi como fiquei do início ao fim diante da obra francesa La Vie d’Adèle ou Azul é a cor mais quente, em português.
Contrariando todas as expectativas que se possa esperar de um filme sobre relações homoafetivas, La Vie d’Adèle não é um filme militante, aliás, a trama vai surpreendendo e ocorrendo tão espontaneamente que há vezes que o espectador até esquece que se trata de um romance entre iguais e simplesmente mergulha nos conflitos e envolvimento das personagens.
Adèle Exarchopoulos não só levou a sério o seu nome próprio com sua personagem, como a olhos vistos se entregou totalmente às descobertas, confusões e dramas de sua vida. Léa Seydoux, por sua vez, incorpora a Emma mais experiente e um tanto egocêntrica com total naturalidade. A química que ocorre entre as atrizes é fantástica e não estou me referindo apenas na área sexual, a qual achei muito mais fetichista do que dramática (não recomendado para quem se choca com beijinho gay de novelinha global) e tirou um pouco o foco do impacto profundo que traz o roteiro.
A estória nos mostra as contradições que ocorrem em um relacionamento onde alguém claramente ama mais em uma relação e procura lidar com o egoísmo da outra pessoa, como é o caso de Ádele que, por ser de origem social mais baixa, não é valorizada por Emma por ser "apenas uma professora". 

Emma, graduada em Belas Artes e rodeada de amigos do meio intelectual, insiste veemente para que Adéle se torne uma escritora. Em diversos momentos vemos sua indiferença frente às atitudes altruístas de Adéle e até mesmo um desrespeito.


A cor azul está presente nos momentos mais intensos do filme e é interessante como ela vai perdendo a intensidade de acordo com que a alma de Adéle vai se perdendo dentro de si.
O filme tem uma produção impecável e super natural, onde você não se vê diante de celebridades esticadas de botox nem super produzidas. Vemos gente como a gente, sem maquiagem (foi uma das ordens do diretor, as atrizes aparecem totalmente naturais), de cabelo bagunçado e comendo sem cerimônias. 


Mas com certeza, Azul é a cor mais quente foi feito para um público diferenciado e não pode ser recomendado livremente. É uma estória para pessoas de mente aberta e preparada e com sensibilidade acima da média para reconhecer o que vai muito além do preconceito ou fetichismo.
Sem liberar spoilers, o desfecho é super interessante e quase imprevisível, deixando no espectador um desejo de querer mais. No final, indica que é a parte 1 da vida de Adéle, o que pode ser o presságio de que virá uma parte 2.
E eu espero ansiosamente que sim.


Mi F. Colmán

 

16 comentários:

  1. Querida Mi
    Sua resenha tão magnificamente delineada aguçou a curiosidade e o desejo de ver esse filme
    Mas aqui na minha cidade demora tanto para chegar rsrs e isso nas locadoras minha amiga
    Viver no interior tem dessas coisas. Quando para o resto do mundo um assunto é ultrapassado por aqui é uma mega novidade. Mas esse não vou perder por nada amiga
    Mi, Você é uma dessas pessoas maravilhosas que confirmam o valor da palavra AMIZADE. Feliz “Dia do AMIGO”
    Beijos

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    1. Oi Gracita! Como vai amiga? :)))
      Sabe, eu nunca me considerei apta a escrever resenhas, por isso fico muito contente quando alguém diz que ela foi bem escrita, me incentiva a continuar dividindo as coisas que gosto com as pessoas amigas.
      Eu também vivo no interior e consigo ter acesso a bons filmes só quando vou ao cinema ou pela tv por assinatura, aqui na minha cidade as locadoras foram extintas. Sério!
      Muito obrigada pelo carinho minha querida, tu também é uma pessoa maravilhosa e que sempre tem me acompanhado e apoiado. Valeu pela sua amizade! \0/

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  2. Eu não vi o filme, eu li a HQ e nossa... É um daqueles livros que eu guardo em lugar de honra sabe? Ele está entre clássicos e livros emocionantes e merece, é dramático, profundo, enxuto... fala sobre amor, solidão, perda... Eu sou apaixonada por essa história! Ainda não vi o filme, mas vou vê.

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    1. Pandora, eu nem sabia da existência da HQ até ter visto a indicação dela no teu blog. Fiquei de cara e louca para ler! Esse filme "caiu de paraquedas" em uma dessas noites por aí em um canal de tv por assinatura. Fiquei intacta, adorei!
      Fiquei apaixonada pela estória e tenho certeza que também me apaixonarei pela HQ. :)))
      Beijos.

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  3. Olá Mi!

    Sempre olho para o filme na Netflix e penso: está na lista! Mas, depois dessa resenha que fez não posso mais esperar. Obrigada, pois assim como você admiro filmes que nos deixam algo de bom para refletir.

    Abraços!

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    1. Oi Lidiane! Tudo bem?
      Que bom que minha resenha está conseguindo instigar a curiosidade das pessoas! Assista e depois me conte o que achou. ;)
      Adoro filmes que me façam refletir sobre tudo.
      Beijos.

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  4. Li o ano passado mas não assisti o filme. A HQ fala de sentimentos, o que é inerente a todo ser independente da opção sexual, como a mortalidade e perda. A autora com apenas 15 anos na época, teve profundidade e provou ser uma grande observadora das relações. A HQ só foi pubicada quando ela tinha 19 anos e o filme lançado 10 anos depois. A autora deixou claro que não gostou da adaptação para o cinema e cortou relações com a produção que deu uma outra visão para a história.
    Percebe como a polêmica em torno de uma obra muitas vezes é criada apenas à título de publicidade? O que pode chocar algo que uma adolescente escreveu quase 15 anos atrás? Nada. Mas o que tem o filme que a autora não gostou? Daí é conferir!
    Muito bem lembrado, vou procurar por ele.
    Beijus,

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    1. Oi Luma! Tudo bem? :)))
      Exatamente, independente da orientação sexual, tudo que fale sobre os sentimentos acaba por ser interessante e, por esse motivo enfatizei que durante a trama, até esquecemos ser um romance entre iguais no sexo biológico.
      Acho bem natural acontecer dos autores não curtirem a versão cinematográfica de suas obras, vide Stephen King com Stanley Kubrick. Ele chegou até a fazer sua própria versão um bom tempo depois, porém, para mim, O Iluminado continua sendo o do Stanley Kubrick. É estranho isso, mas há casos que o próprio autor também não consegue superar sua própria estória quando sai da escrita.
      Procure, mas desconfio que não vá gostar.
      Geralmente quem tem acesso à obra escrita primeiro, não curte a versão do cinema.
      Foram raras as vezes que isso não me aconteceu.
      Beijos.

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  5. Olá, Mi...tudo "riba" comigo,sim!...bela resenha e dica ... assisti o filme,e li grande parte ,também, das polêmicas. Muito pelo desconhecimento de alguns ,sem a "mente aberta"e sensibilidade, o que tornou algumas sequências mais perturbadora ou mais reveladora para uns do que para outros. Porém, eu digo por mim, já esperava que um filme com um casal homo Iria causar muitas polêmicas...mas,não só por isso, porque entendo que, com sexo explícito , ou não, presente, independente de ser uma relação homo/hetero ou não, o sexo ainda é um tabu na sociedade, por isso,ainda prefiro vê lo, conforme tu "escreveu"," como uma produção que trata de um romance entre iguais e simplesmente mergulha nos conflitos e envolvimento das personagens, " sobre a descoberta, a passagem da adolescência para o adulto , onde o amor e o sexo estão, mas como pano de fundo para algo bem mais complexo...e li o romance HQ de J. Maroh...percebe JÁ pela diferença do título, assim como do nome da protagonista do filme, uma distância do filme de Kechiche em relação à obra ... e apesar de uma outra vertente,eu sou mais pela adoção do nome de atores e atrizes para as personagens que representam na tela , pois, aproxima realidade e ficção e tudo , no real e na ficção, se passa como se o nome estivesse sempre lá...agradecido ,feliz semana, belos dias, beijos

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    1. Oi Felisberto! Tudo em riba, sempre meu amigo! :))))
      A gente realmente espera esse tipo de polêmica quando se trata de romance homoafetivo. É inevitável, não é? Eu cheguei até a receber algumas "observações" (críticas seria um termo pesado para elas) no offline de pessoas que leram a resenha, foram ver o filme e ficaram meio assustadas. Este é o que vi de problemático nas cenas de sexo de Azul é a cor mais quente, as pessoas têm muito tabu e acabam perdendo o foco principal da estória. Ou ficam chocadas ou partem para o fetiche, ambas as formas não é legal. Por isso digo que a pessoa precisa ter a mente muito aberta para poder "suportar" tais cenas e sensibilidade para conseguir "desviar" delas e mergulhar na trama que é rica em diversos pontos.
      Que legal que tu também leu a HQ! Eu estou louca para ler depois que vi a indicação no blog da Pandora, ao ver o filme nem imaginava que ela existisse. Pelo que relata, a obra é muuuito diferente da versão para o cinema e certamente isso responde aos questionamentos da colega Luma acima. Se há algo que autores detestam é que "mexam" com suas estórias. rs.
      Eu também curti muito essa proximidade entre o nome real da atriz e a personagem. Aliás, tudo ali soou tão natural...
      Eu que agradeço.
      Um feliz fim de semana para ti, belos dias te desejo também.
      Beijos.

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  6. Mi,
    Que coincidência ! Outro dia, conversando com uma menina francesa na terapia, começamos a falar sobre filmes. E, ela me perguntou se eu tinha assistido a esse filme. Me perguntou se eu era preconceituosa, eu disse não. Então, assista! Chego aqui e vc faz essa resenha fantástica. Tenho mesmo que assisti-lo! Sou muito curiosa, rsrsrsrsrs. Vou ter que sair procurando!
    Eu estava lendo os comentários e tem uma HQ, é isso?
    Agora, porque vc está estressada ? Não vale a pena! Relaxe e siga a sua vida. Ah... Depois e muitas pressões , baixei o WhatsApp , rsrsrsrs. Vamos conversar!!!!!!!!! Bjs e uma noite de paz pra vc!

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    1. Lu, coincidência meeeesmo! Caraca!
      Tenho certeza que tu vai gostar muito do filme, sei que não tem preconceitos desse tipo.
      Resenha fantástica???? Uau! Vou começar a pensar no assunto de escrever mais resenhas aqui para o blog então! \0/
      Sei que essa opinião veio de uma pessoa inteligente e que não faz questão de ficar adulando ninguém. Gosto demais da tua autenticidade em tudo que opina.
      Pois é! Tem uma HQ! Quando vi o filme nem fazia ideia e agora estou mega curiosa para ler! Embora já tenha sido alertada pelo amigo Felisberto que ela é bem diferente do filme, porém, para a Pandora indicar como melhores de 2015 e tê-la em lugar de honra em sua estante, já dá para imaginar o que vem por aí.
      Amiga, eu estava estressada com umas paradas lá do cursinho que volta semana que vem e depois veio coisa pior. Como dizia meu professor de Matemática do Ensino Médio: "não há nada ruim que não possa piorar!" huahauhaua! Esse Grabovoi devia ceder uns códigos de bom senso para evitar que seus seguidores ameacem pessoas que não concordam com seu método. rs.
      Aaaah! Modero os comentários e só leio direito depois, quando vou responder. Passa teu número inbox no Face para mim e vamos tagarelar via whats! Aeeeeeeeeeeee!!! \0/
      Beijos minha querida amiga e muita paz para ti! :)))))

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  7. Oi Mi,
    Ahhh, porque vc não liberou spoilers?!?rs
    Fiquei curiosa. O enredo parece bom.
    Mas como vc escreveu, esse tipo de filme
    é para pessoas de mente aberta.
    Tem gente que enfarta, só de pensar na possibilidade
    de assistir um filme assim.
    Uma boa dica de filme!
    Abraços!

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    1. Clau! \0/
      Guria... Se eu liberar spoilers aqui o pessoal me mata! hahahahaha!
      Teve um amigo que inclusive falou que ficou com medo de vir ler a resenha e eu ter liberado algum spoiler, depois quando soube que não, ficou sossegado.
      O enredo é muuuito bom! Mas com certeza, não é o tipo de filme que se recomenda livremente por aí. Recomendei aqui porque sei como são as pessoas que me acompanham.
      Tem gente que enfarta com beijo de novela global. rs. Aí não rola de jeito nenhum!
      Beijos amiga e um excelente fim de semana. :))))

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  8. Seja bem-vinda Isabel!
    Grata pela visital. :)))
    Beijos.

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  9. Ainda vou assistir!Boa resenha*
    Beijos*

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"Não compartilho meus pensamentos achando que vou mudar a cabeça de pessoas que pensam diferente. Compartilho meus pensamentos para mostrar às pessoas que já pensam como eu que elas não estão sozinhas". Autor desconhecido

"Ser feliz é saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um “não”. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta". Augusto Cury

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Mi F. Colmán


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